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Direito Ambiental

UE promove tecnologias de transição no Brasil

Por Camila Souza Ramos

Um produtor rural brasileiro que queira adotar alguma prática que reduza as emissões de gases de efeito estufa de sua propriedade pode nem sempre conhecer ou ter à disposição as tecnologias necessárias para implementar suas ideias. Em uma iniciativa no Brasil, a União Europeia quer mostrar que empresas do bloco podem ser capazes de atender a demanda por essas tecnologias.

Por meio do Low Carbon Business Action (LCBA), uma plataforma de negócios que a União Europeia criou a partir do European Green Deal, de 2020, o bloco quer promover acordos comerciais entre fornecedores de tecnologia europeus de pequeno e médio portes e empresas brasileiras que tenham interesse em investir na transição energética, na economia circular e na mitigação das mudanças climáticas no país.

Alguns negócios já começaram a ser feitos. Desde o início de sua atuação no Brasil, o LCBA encaminhou 14 acordos, que deverão envolver investimentos de um total de € 22 milhões e permitirão reduzir as emissões de poluentes em mais de 430 mil toneladas de gás carbônico equivalente ao ano. E, para acelerar sua atuação no Brasil, o LCBA vai lançar uma chamada pública para atrair mais empreendedores brasileiros que estejam em busca de tecnologias para negócios mais “verdes”.

Para o novo ciclo de prospecção de clientes no Brasil, a plataforma dará prioridade ao fomento de cinco temas: biogás e biometano, agricultura de baixo carbono, gestão de resíduos, energias renováveis (incluindo bioenergia, eólica e solar) e reciclagem. “A União Europeia tem tecnologias testadas para isso. O desafio era como levá-las para o Brasil e outros países”, diz Marcelo Perpétuo, general manager da LCBA para o Brasil.

Atualmente, a iniciativa também opera em outros países das Américas, como Argentina, Chile, Canadá, Colômbia e México. De início, a LCBA mapeou as empresas europeias de pequeno e médio portes que desenvolveram tecnologias “verdes”, e, a partir dessa triagem, criou um portfólio que conta atualmente com mais de 500 companhias da Europa.

Acesso a mercados

A proposta é oferecer soluções de empresas europeias que não costumam ter projeção e acesso a mercados a que multinacionais do continente têm, mas que também possuem tecnologias inovadoras para a transição energética ou a economia circular.

Perpétuo cita alguns exemplos, como o de um pequeno negócio da Sérvia que desenvolveu uma enzima que pode ser adicionada à ração animal e é capaz de reduzir as emissões de metano do gado e o de uma empresa com presença na Espanha e na Finlândia que consegue identificar as espécies dentro de uma área de vegetação a partir de microssatélites e radares.

Além de fazer a ponte com clientes do outro lado do Atlântico, a LCBA também se propõe a dar apoio aos investidores em seus projetos de desembolso e de negócios. Esse apoio pode ser técnico, organizacional ou mesmo financeiro. Dessa forma, se os investidores precisam de financiamento para fazer os aportes, a equipe da iniciativa europeia ajuda a estruturar o plano de investimento e já oferece às instituições financeiras uma análise ambiental da proposta.

“Hoje tem muito capital carimbado com ESG, mas existem poucos projetos robustos para a alocação desse capital. Quando entramos no processo, facilita o andamento das coisas”, diz Perpétuo. Todo o apoio é bancado pela UE.

O fato de a LCBA se propor a trabalhar com empresas de diferentes segmentos também abre espaço para que tecnologias que costumam ser direcionadas para um número limitado de áreas possam ser exploradas em negócios distintos. Isso cria uma espécie de “polinização cruzada” de tecnologias, argumenta o executivo.

Ele reforça, porém, que as companhias brasileiras que tiverem interesse em se aproximar da iniciativa precisam assegurar que os investimentos que pretendem realizar são de fato transformadores do negócio. Com a exigência, pretende-se evitar o risco de “greenwashing”. Para isso, explica Perpétuo, os indicadores ambientais dos projetos passam por avaliação e também são analisados por auditora independente.

Fonte: Valor Econômico, 15/03/2022.
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