26.02

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Mercosul cobra proposta da UE para ação ambiental

Por Assis Moreira

Uma audiência pública no Parlamento Europeu sobre o acordo União Europeia-Mercosul serviu hoje para a Argentina, na presidência rotativa do bloco do cone sul, cobrar ação dos europeus para avançar na aprovação e implementação do tratado a fim de ampliar os negócios e a aliança entre os dois lados.

Diante das fortes críticas de diferentes setores na Europa envolvendo desmatamento e preservação da Amazônia, a UE sinalizou que apresentaria em janeiro uma proposta com compromissos adicionais em matéria ambiental a aplicar às duas partes. O plano é de incluir esses compromissos numa declaração anexa para frear a enxurrada de oposição ao acordo birregional.

Mas, em sua participação na audiência pública organizada pela Comissão de Comércio Internacional do Parlamento, o embaixador da Argentina na UE, Pablo Ariel Grinspun, reclamou que “o tempo passa e não recebemos sinal (da UE) para trabalhar de maneira conjunta (sobre o tema)”. O Brasil, sobretudo, repetiu numerosas vezes que está pronto a tratar de engajamento adicional. Já, os europeus dizem que continuam deliberando internamente.

O embaixador argentino declarou que as práticas não sustentáveis no Mercosul tem relação com falta de oportunidades econômicas, por isso compromisso adicional deve vir com financiamento para os países do bloco lutarem contra o desmatamento e mudança climática.

Em sua intervenção, a chefe da divisão de América do Sul no Serviço Europeu de Ação Externa, Véronique Lorenzo, sinalizou para “iniciativas para a Amazônia e o Mercosul”, ou seja, financiamento, sem entrar em detalhes. Para ela, “o momento é agora” para aprovar o acordo e aproveitá-lo no contexto de recuperação pós-covid 19.

Em meio a cobranças de vários setores europeus para ser incluída a possibilidade de sanções concretas na área ambiental, no acordo UE-Mercosul, o representante da Comissão Europeia, Rupert Schlegelmilch, deixou claro que Bruxelas não tem muita alavancagem para pressionar o Brasil com a cota de carne bovina, que é bastante modesta. Isso porque o tamanho da cota, de 99 mil toneladas, representa não mais que algumas semanas de exportação bovina do Brasil para a China, por exemplo.

Na audiência pública, não houve surpresa, com as posições conhecidas dos que apoiam ou rejeitam o acordo birregional. De seu lado, a vice-diretora geral do Business Europe, espécie de CNI Europeia, Luisa Santos, insistiu que Bruxelas não pode perder a oportunidade também por questão geopolítica. “A China está usando a diplomacia de vacinas para reforçar sua presença no terreno. Se não estivermos lá (no Mercosul), outros vão ocupar o espaço”, disse ela.

Na mesma linha, o deputado europeu Sven Simon, da democracia cristã alemã, observou que não só a China, como também os EUA, certamente não vão questionar muito sobre sustentabilidade social e ambiental para suas empresas ocuparem o terreno no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

O professor Maximiliano Mendes-Parra, da London School of Economics, que dirigiu um estudo de impacto sobre o tratado UE-Mercosul, observou que o acordo não faria o desmatamento piorar, e poderia ajudar com soluções na região.

Sophie Paulini, da Erasmus University de Roterdã (Holanda), assim como alguns deputados da social-democracia e dos verdes, considerou que as normas para sustentabilidade no acordo UE-Mercosul são frágeis e não têm como se fazer serem respeitadas.

Pelo que sinalizou o Mercosul, a “bola está do lado dos europeus” para dar os próximos passos pelo acordo birregional.

Fonte: Valor Econômico, 25/02/2021.
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