08.03

Imprensa

Agronegócio

Conflito entre Rússia e Ucrânia motiva defesa do aumento da produção brasileira de fertilizantes

Jefferson Klein

A recomendação do governo russo para que os fabricantes de fertilizantes daquele país interrompam as suas exportações e as restrições impostas à economia da nação europeia devido à guerra na Ucrânia preocupam o agronegócio brasileiro. A situação serviu para que as empresas que atuam com fertilizantes no Brasil levantassem a bandeira da necessidade de incrementar a produção local do insumo para diminuir o volume de importações.

“Essa dependência que o Brasil tem de fora ficou estampada, não somente pela guerra, eu diria que nos últimos três anos está estampada”, enfatiza o diretor-executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA), Ricardo Tortorella. Ele detalha que o Brasil só produz cerca de 15% do fertilizante que utiliza, sendo 85% proveniente do exterior. Em 2020, o País consumiu aproximadamente 40,6 milhões de toneladas de fertilizantes e produziu apenas em torno de 6,3 milhões de toneladas desse total.

O dirigente argumenta que os preços dos insumos e dos fretes já vinham subindo e era visível que esse modelo de, produzir pouco e importar muito, desequilibra a oferta e a demanda, ficando claro que é preciso corrigir essa situação. Tortorella prefere não especular o percentual que seria adequado, mas reitera que o País deve buscar esse equilíbrio produzindo mais e dependendo menos do mercado internacional. Ele recorda que o governo federal pretende lançar ainda em março o plano nacional de fertilizantes, seguindo a diretriz de criar facilidades para que a produção nacional possa ser incrementada.

Particularmente quanto aos reflexos da invasão da Rússia na Ucrânia para o setor do agronegócio, Tortorella diz que a maior dificuldade para o Brasil será a importação de cloreto de potássio, já que o País compra dos russos cerca de 3 milhões de toneladas anuais desse insumo, o que representa em torno de 25% da sua demanda. Até a semana passada, o dirigente informa que ainda não havia sido suspendido oficialmente o envio de fertilizante daquela região, mas ele admite que já se verificavam algumas dificuldades logísticas e com o fluxo de pagamentos internacionais.

Porém, o diretor da ANDA ressalta que os produtores brasileiros, principalmente os que trabalham com soja e milho, já compraram volumes significativos de fertilizantes para atender à necessidade desta safra. “Eles anteciparam essas compras exatamente porque o mundo está muito conturbado”, destaca Tortorella. Ele estima que o Brasil possui um estoque de fertilizantes para os próximos três meses. “Então, a gente tem como empurrar o problema para junho, depois disso seria um problema real”, acrescenta.

Em nota, um dos principais players do setor de fertilizante no Brasil, o grupo Yara, ressalta que “a crise envolvendo Rússia e Ucrânia afeta a todos, com impactos diretos ao sistema alimentar global, seja pelo comprometimento da própria produção agrícola dos países envolvidos ou do fornecimento de matérias-primas como gás natural e fertilizantes”. O comunicado acrescenta que “a Yara Internacional e a Yara Brasil estão monitorando todos os cenários e desdobramentos desta situação e buscando alternativas para mitigar ao máximo as implicações na cadeia de valor do alimento, valendo-se de sua atuação global e de sua robusta rede de fornecedores”.Empresa Águia Fertilizantes busca tirar empreendimento de Lavras do Sul do papelA dificuldade da oferta no setor de fertilizantes reascendeu o debate sobre o empreendimento da Águia Fertilizantes para produzir fosfato no município gaúcho de Lavras do Sul. O Projeto Fosfato Três Estradas prevê, em uma etapa inicial, a capacidade para atingir até 300 mil toneladas do produto anualmente (cerca de 10% a 12% da demanda gaúcha), porém o licenciamento ambiental da iniciativa é alvo de questionamentos por parte do Ministério Público Federal.

O CEO da Águia Fertilizantes, Fernando Tallarico, sustenta que iniciativas como a de Lavras do Sul tornariam o País menos suscetível ao mercado internacional. Ele recorda que o empreendimento vem sendo desenvolvido há mais de uma década, desde a descoberta das jazidas. O projeto já recebeu um aporte de mais de R$ 80 milhões, com a aquisição de propriedades e estudos, e uma quantia similar ainda precisaria ser investida para materializar o complexo.

O processo de licenciamento ambiental foi desencadeado a partir de 2015, mas até agora não foi obtida a licença de instalação. Tallarico estima que, após conseguir a autorização, dentro de oito meses é possível começar a produção. Contudo, em junho do ano passado o Ministério Público Federal ajuizou uma Ação Civil Pública (ACP) a respeito do licenciamento ambiental do complexo. “Nós estamos parados, não estamos fazendo nada para avançar o projeto que não seja nos defender na Justiça, estamos simplesmente perdendo tempo”, comenta o CEO da Águia Fertilizantes.

Em nota, a assessoria do Ministério Público Federal informa que a ação movida tem como objetivo a declaração de nulidade de atos praticados no âmbito do licenciamento ambiental do Projeto Fosfato Três Estradas. Segundo o MPF, foram elaborados laudos técnicos e outras ações que apontam diversos vícios e irregularidades no âmbito do licenciamento ambiental do empreendimento. Entre os pontos defendidos na ação, está a necessidade de realizar consultas aos pecuaristas familiares que podem ser potencialmente afetados pelo complexo.

Fonte: Jornal do Comércio, 07/03/2022.
Tratamento de Dados Pessoais (Data Protection Officer - DPO)

E-mail: lgpd@lippert.com.br